Obras no Teatro Nacional avançam em etapas de acesso e segurança e novo fundo de cultura vai captar recursos para terminar a obra

Com investimento de R$ 60 milhões, estão sendo construídas novas saídas de emergência e um reservatório de incêndio, além do restauro da Sala Martins Pena e da fachada marcante de Athos Bulcão






Decreto assinado nesta sexta-feira (1º) pela governadora em exercício cria o Conselho de Administração do Fundo de Política Cultural. Recursos serão usados na execução de programas e projetos, como as obras do Teatro Nacional

A governadora em exercício Celina Leão assinou, nesta sexta-feira (1º), durante visita às obras do Teatro Nacional Claudio Santoro, decreto que cria o Conselho de Administração do Fundo de Política Cultural do Distrito Federal (FPC-DF). O grupo ficará responsável por elaborar o regulamento do fundo contábil que tem como finalidade captar recursos da iniciativa privada, do governo federal e do Poder Legislativo para auxiliar na execução de programas e projetos culturais. A medida era necessária para que o FPC-DF fosse de fato implementado.

Atualmente os trabalhos no equipamento público estão na primeira etapa, na Sala Martins Pena, com recursos empenhados pelo próprio Governo do Distrito Federal (GDF) no valor de R$ 60 milhões | Fotos: Renato Alves

O governo pretende utilizar os recursos do fundo para dar continuidade às obras do Teatro Nacional. Atualmente os trabalhos no equipamento público estão na primeira etapa, na Sala Martins Pena, com recursos empenhados pelo próprio Governo do Distrito Federal (GDF) no valor de R$ 60 milhões. A reforma também será feita nas salas Villa-Lobos e Nepomuceno e os foyers.

“Esse fundo é importantíssimo para que possamos terminar a obra do Teatro Nacional. O recurso até agora empenhado é para a Sala Martins Pena. Precisamos do restante para toda essa área [as salas Villa-Lobos e Nepomuceno e os foyers]. A criação desse fundo vai possibilitar que a iniciativa privada possa investir. Também vai possibilitar que os deputados distritais e federais, senadores e o governo federal possam colocar recursos nesse fundo”, explicou a governadora em exercício Celina Leão.

Efetivação do fundo
Formulada pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec-DF) por determinação do governador Ibaneis Rocha, a proposta determina que o Conselho será presidido pelo secretário titular da pasta, além de 10 membros titulares e respectivos suplentes, sendo cinco conselheiros indicados e nomeados pelo Poder Público e cinco conselheiros representantes da sociedade civil.

A governadora em exercício Celina Leão assinou, nesta sexta-feira (1º), durante visita às obras do Teatro Nacional Claudio Santoro, decreto que cria o Conselho de Administração do Fundo de Política Cultural do Distrito Federal (FPC-DF)

Criado pela Lei Orgânica da Cultura (LOC), em 2017, o Fundo de Política Cultural do DF nasceu como um mecanismo de financiamento voltado prioritariamente aos equipamentos públicos de cultura e ao patrimônio material e imaterial e às políticas culturais.

“Estamos tirando do papel o Fundo de Política Cultural. O governador entendeu que é um fundo capaz de atrair recursos também para a reforma e o restauro do Teatro Nacional. É um fundo contábil que permite doações desde pessoas físicas até organismos internacionais passando por institutos, emendas parlamentares e relação com o setor produtivo”, afirmou o secretário de Cultura e Economia Criativa, Cláudio Abrantes.
A governadora em exercício Celina Leão, os secretários José Humberto Pires de Araújo (Governo) e Cláudio Abrantes (Cultura e Economia Criativa) e o presidente da Novacap, Fernando Leite, estiveram, na manhã desta sexta-feira (1º), em visita às obras do Teatro Nacional Claudio Santoro. O grupo de autoridades conferiu o andamento dos trabalhos que foram iniciados pelas intervenções necessárias para cumprir as exigências de segurança e acessibilidade.Trabalhos abrangem toda a estrutura do teatro, fechado desde 2014 porque, até então, descumpria exigências de segurança e funcionamento | Foto: Lúcio Bernardo Jr.

A primeira etapa da reforma consiste na construção da infraestrutura para atender às normas vigentes, com duas novas saídas de emergência e um reservatório de incêndio, e no restauro da Sala Martins Pena e da fachada marcante do teatro, diferenciada pela arte de Athos Bulcão. Com investimento de R$ 60 milhões, a obra é conduzida pela empresa Porto Belo, contratada pela Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap), com a participação de mais de 100 operários.

“O teatro é uma obra da década de 1960, com projeto da década de 1950, quando não existiam normas de segurança. Estamos introduzindo uma série de modificações, fazendo esse salto no tempo, trazendo o Teatro Nacional para 2023”Fernando Leite, presidente da Novacap

“Essa obra foi inaugurada num momento em que não havia critérios [de segurança e acessibilidade]; não tinha nem saída de emergência, para vocês verem o nível da precariedade em que o espaço se encontrava”, declarou a governadora em exercício. “Mas isso é passado: nós estamos reconstruindo e estamos num momento muito importante”. O Teatro Nacional foi fechado em janeiro de 2014, sob recomendação do Corpo de Bombeiros e do Ministério Público, por descumprir exigências vigentes ao funcionamento.

Atualização
O presidente da Novacap, Fernando Leite, ressaltou que a obra vem para atualizar o Teatro Nacional do ponto de vista das normas de segurança e acessibilidade e da modernização acústica. “As dificuldades foram enormes”, avaliou. “O teatro é uma obra da década de 1960, com projeto da década de 1950, quando não existiam normas de segurança. Aqui no teatro foram enumeradas mais de 100 irregularidades. Estamos introduzindo uma série de modificações, fazendo esse salto no tempo, trazendo o Teatro Nacional para 2023”.

Por se tratar de um equipamento público tombado, os trabalhos no local são complexos. “É importante frisar que não estamos tratando somente de uma reforma; é um bem tombado e, portanto, tem todo um cuidado e um zelo para manter as características originais do projeto”, afirmou o secretário de Cultura e Economia Criativa, Cláudio Abrantes.

Celina Leão destacou que a obra, além de adequar o equipamento público, tem como objetivo recolocar Brasília na rota cultural. “A nossa cidade hoje não tem nenhum local para grandes espetáculos”, argumentou. “Nós estamos perdendo tudo isso para Rio e São Paulo. É um investimento grande do Estado, mas não temos condições de receber eventos sem esse grande investimento, que, com certeza, retornará aos cofres públicos com hospedagem e hotelaria e todo um aparato de serviços”.
“É um investimento grande do Estado, mas não temos condições de receber eventos sem esse grande investimento, que, com certeza, retornará aos cofres públicos com hospedagem e hotelaria e todo um aparato de serviços”Celina Leão, governadora em exercício

Avanço dos trabalhos
O primeiro grande marco desta etapa da obra é a finalização do reservatório de incêndio, uma estrutura de 202 metros quadrados em concreto com capacidade para 350 mil litros de água, que está na fase da impermeabilização interna.

Atualmente, os serviços se concentram na construção das duas saídas de emergência – serão dois túneis com 37 metros de rampa, com concretagem e impermeabilização -, da salas de máquina para exaustão do ar-condicionado, com escavação e concretagem de estacas, e da sala dos geradores.

Essa última estrutura está com fundação pronta na etapa do levantamento das paredes de concreto e da armação para, em seguida, ser feita a laje de cobertura. O local abrigará cinco equipamentos de energia, dois dos quais serão instalados na primeira etapa da obra para abastecer a Sala Martins Pena.


“Hoje estamos alimentando o Teatro Nacional com relação à exigência dos Bombeiros”, explicou a fiscal da obra pela Novacap, Uyara Mendes. “Toda essa infraestrutura servirá também para a segunda etapa da obra, que contemplará a Sala Villa-Lobos. Então, é muito importante começarmos pelas normas, tratando e sanando a parte de segurança e acessibilidade.”

O secretário de Governo, José Humberto Pires de Araújo, enfatizou que os trabalhos seguem avançando no teatro: “Essa etapa da Martins Pena está com todo o recurso garantido e a obra em andamento, com ritmo normal”.

Originalidade preservada
Dentro da Sala Martins Pena, todo o revestimento de carpete foi retirado, bem como as cadeiras, para que pudesse ser feito o restauro da estrutura. O espaço contou com a recuperação dos patamares da plateia – que terá 490 lugares e quatro acessos -, a retirada das armaduras e dos dutos do forro que estão sendo tratados e a instalação de alarme de incêndio, ar-condicionado e equipamentos hidrossanitários.

“Com essa obra, tenho certeza que o teatro estará qualificado e em condições internacionais para receber espetáculos do mundo inteiro”Claudio Cohen, regente da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro

Estruturas metálicas foram montadas para a construção dos banheiros do foyer e da Central de Água Gelada (CAG). As lajes estão sendo demolidas para a execução de duas escadas e um elevador acessível que darão acesso aos camarins no subsolo. O projeto interno precisou de adaptação devido ao aparecimento de vigas e colunas que não constavam nas plantas anteriormente.

Todas as intervenções dentro da sala seguem as diretrizes da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) e do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para manter a integridade do espaço público. Serão mantidas as cores das poltronas e dos carpetes originais, assim como o granito nos banheiros, que precisaram ser retirados para que o espaço passasse por impermeabilização. Além disso, um painel de Athos Bulcão está sendo preservado durante toda a obra.

“Estamos em contato direto com Iphan e com a Secec fazendo a autorização para a melhor especificação de material possível para se chegar à originalidade total sala; queremos restaurar e resgatar aquela lembrança afetiva do público”, reforçou Uyara Mendes.


Arte: Agência Brasília

Ansiedade da classe cultural
Presente à visitação, o maestro da Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Claudio Santoro, Claudio Cohen, destacou: “Sempre foi uma grande vontade essa renovação do teatro. Com essa obra, tenho certeza que o teatro estará qualificado e em condições internacionais para receber espetáculos do mundo inteiro”.

Ele se disse muito animado e ansioso com os serviços. “Para nós, é uma alegria muito grande essa reforma em andamento, realmente nos emociona, porque há um anseio da população, da orquestra e da classe cultural para a volta deste teatro”, ressaltou.

Integrante da orquestra desde 2018, a musicista Mariana Costa Gomes nunca chegou a ter experiência de tocar no Teatro Nacional. Suas lembranças são apenas como público, na infância. “Estamos numa expectativa enorme”, disse. “Nosso sonho é ter a nossa casa de volta. Aqui é a casa da Orquestra, da cultura, da arte e da música. Para nós, tem um valor enorme essa obra”.

História
O Teatro Nacional Claudio Santoro (TNCS) foi projetado por Oscar Niemeyer em 1958, para ser o principal equipamento cultural da nova capital do Brasil. Foi chamado inicialmente de Teatro Nacional de Brasília, mas, a partir de 1989, mudou de nome em homenagem ao maestro e compositor que fundou a orquestra sinfônica do Teatro.

O espaço também presta tributo aos compositores Heitor Villa-Lobos e Alberto Nepomuceno e ao dramaturgo Martins Pena, que dão nome às salas do equipamento público.

Ao longo da história, o Teatro Nacional recebeu grandes nomes da música, da dança e do teatro – entre outros, Mercedes Sosa, Balé Bolshoi, Ópera de Paris, Fernanda Montenegro, Dulcina de Moraes, João Gilberto, Caetano Veloso e Maria Bethânia.

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