O avanço da tecnologia trouxe uma dúvida frequente entre pais: a partir de que idade é seguro permitir que crianças joguem online? Especialistas alertam que, embora a legislação proíba menores de idade em jogos de azar, os jogos online em geral não são proibidos e precisam ser considerados como parte do "tempo de tela" — uma questão que exige atenção redobrada em relação ao desenvolvimento infantil
Foto: Renato Santos.
A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que, até os 2 ou 3 anos de idade, o ideal é evitar totalmente o uso de telas, e o tempo de exposição deve ser aumentado gradualmente à medida que a criança cresce, sempre de forma controlada. Para crianças até os 14 anos, o controle parental é altamente recomendado. "É importante que os pais acompanhem de perto as interações dos filhos nesses ambientes. Cada família tem suas particularidades, mas o diálogo aberto é a chave para garantir que a experiência online seja saudável", orienta Rodrigo Fragola, especialista em crime cibernético.
Cibercrimes e vazamento de informações pessoais
Uma das principais ameaças nos jogos online é o vazamento de informações pessoais. Crianças, muitas vezes, acabam fornecendo dados valiosos a adultos mal-intencionados, que podem utilizar essas informações para fins financeiros ou até criminosos. "O perigo do vazamento de dados é real. O spyware, por exemplo, pode ser instalado sem que a criança perceba, capturando imagens, sons e tudo o que é digitado. Assim, essas informações podem ser usadas para explorar a família de diversas formas", explica Fragola.
Além disso, o especialista destaca o risco de que senhas e logins compartilhados possam ser reutilizados para acessos a outras contas importantes. "É fundamental orientar as crianças a nunca compartilhar informações pessoais e, de preferência, utilizar autenticação em duas etapas para garantir maior segurança", reforça Fragola.
Cyberbullying e o impacto no comportamento infantil
Outro problema recorrente no ambiente dos jogos online é o cyberbullying, que pode gerar traumas e afetar a saúde mental das crianças. Assim como no bullying presencial, o cyberbullying envolve humilhações e exclusões, mas ocorre de forma virtual, onde os agressores podem se esconder atrás de pseudônimos.
"Pais devem estar atentos a mudanças de comportamento, como isolamento ou tristeza repentina, que podem ser sinais de que a criança está sofrendo com esse tipo de agressão. Jogar junto e observar o tipo de interação é uma forma eficaz de prevenção", ressalta Fragola.
Roubos e fraudes em jogos online
Além do bullying, o especialista alerta para a crescente prática de golpes financeiros em jogos online, que muitas vezes envolvem a compra de itens ou fases especiais para continuar jogando. "Muitos jogos funcionam como cassinos disfarçados. Eles incentivam as crianças a gastar dinheiro real para avançar, criando uma armadilha onde o jogador se sente compelido a fazer compras para progredir", afirma Fragola.
Ele recomenda que os pais entendam os mecanismos de compra dentro dos jogos antes de permitir que seus filhos joguem. "Jogos que induzem as crianças a comprar itens virtuais podem criar um ciclo de dependência e ensinar práticas nocivas em relação ao dinheiro", alerta.
Segurança digital: medidas preventivas
Para garantir a segurança das crianças online, é crucial adotar algumas medidas preventivas. O especialista sugere que os pais usem tecnologias de monitoramento, como softwares de segurança e aplicativos de localização, além de incentivar o uso de senhas fortes e a constante atualização de sistemas operacionais.
"Manter o software atualizado e evitar clicar em links desconhecidos são medidas simples, mas extremamente eficazes para evitar golpes online. Também é importante orientar as crianças a não fornecerem informações pessoais, como nome, telefone ou endereço, durante interações nos jogos", destaca Fragola.
O equilíbrio entre o positivo e o negativo dos jogos online
De acordo com a psicóloga Silvia Oliveira, os jogos online podem ter um lado positivo, promovendo habilidades cognitivas e sociais como raciocínio lógico, coordenação motora, trabalho em equipe e comunicação. "Esses jogos, quando jogados em grupo, podem desenvolver habilidades valiosas para a criança", observa Silvia. No entanto, ela também alerta que o uso excessivo pode levar a problemas como isolamento social, ansiedade, agressividade e até queda no desempenho escolar.
"Alguns sinais de dependência podem incluir a priorização dos jogos em detrimento de atividades importantes, como os estudos, ou a irritabilidade quando a criança não consegue jogar", acrescenta a psicóloga. Além disso, a exposição prolongada a esse ambiente pode resultar em sedentarismo e outros impactos negativos na saúde física e mental.
O papel dos pais na proteção e na orientação
Quando uma criança é exposta a conteúdo inadequado ou perigoso, a primeira resposta dos pais deve ser um diálogo aberto e acolhedor. Proibir diretamente um jogo pode gerar mais interesse, portanto, entender o que está motivando a criança a participar desse ambiente é crucial. "O diálogo é sempre o caminho mais seguro. Se os pais perceberem que a criança está muito envolvida em um jogo ou plataforma que traz riscos, é importante investigar o motivo desse apego. Em casos mais complexos, buscar a ajuda de um psicólogo pode ser essencial", finaliza Fragola.
Para Silvia Oliveira, o papel dos pais vai além do monitoramento. Eles precisam criar uma cultura de comunicação aberta e estar atentos aos sinais de alerta, como a perda de interesse em outras atividades e o aumento da ansiedade. "Estabelecer limites claros sobre o tempo de jogo e o tipo de conteúdo acessado é fundamental", recomenda. Ela ainda reforça a importância de incentivar atividades fora do mundo digital, como brincadeiras ao ar livre e interações face a face. "O equilíbrio entre o tempo online e o offline é essencial para o desenvolvimento saudável da criança", finaliza.
Em tempos de intensa conexão digital, o papel dos pais é mais importante do que nunca. Estar atento ao comportamento dos filhos, entender as dinâmicas dos jogos e, principalmente, manter uma comunicação aberta são medidas essenciais para garantir que as crianças tenham uma experiência online segura e saudável.