Maio Laranja: O silêncio também violenta — um abusador sempre será um abusador

Campanha nacional reforça o alerta sobre o abuso sexual infantil e a importância da escuta ativa, da prevenção e da denúncia.


O Maio Laranja reforça um alerta que não pode ser ignorado: o abuso sexual contra crianças e adolescentes é uma violência grave, silenciosa e, muitas vezes, invisível. A campanha nacional mobiliza a sociedade brasileira para romper com o ciclo do silêncio e da omissão — o primeiro passo para interromper o sofrimento das vítimas e responsabilizar os agressores.

A psicóloga e psicanalista Silvia Oliveira explica que o silêncio, especialmente quando imposto ou incentivado, agrava o trauma. “Psicologicamente, o silêncio reforça o sentimento de culpa e vergonha na criança. É no momento em que o trauma encontra lugar na linguagem que ele começa a ser elaborado”, afirma.

Corpos que denunciam: atenção aos sinais

Na maioria dos casos, a criança não consegue nomear o abuso — mas o corpo e o comportamento revelam o que a palavra ainda não alcança. Alterações de humor, regressões comportamentais (como voltar a urinar na cama), medos inexplicáveis, sexualização precoce e queixas físicas recorrentes sem causa aparente são sinais de alerta.

“Não se trata de fazer diagnósticos precipitados, mas de escutar com atenção e acolher com cuidado. Nenhum sintoma isolado comprova o abuso, mas todos merecem ser investigados com seriedade”, reforça Silvia.

Prevenção começa com diálogo e confiança

A prevenção do abuso sexual infantil começa cedo, com educação e diálogo respeitoso sobre o corpo e os limites do toque. A orientação deve ser contínua, lúdica e clara, com apoio de livros, histórias e atividades que ajudem a criança a compreender seus direitos.

“A educação sexual preventiva não erotiza, ela protege. Ensinar que existem toques inadequados e que a criança pode e deve dizer 'não' é uma forma de empoderamento. Um ambiente de confiança simbólica é essencial para que a criança se sinta segura para falar quando algo está errado”, destaca a psicanalista.

As marcas invisíveis do trauma

As consequências do abuso sexual na infância podem se prolongar por toda a vida. Transtornos de ansiedade, depressão, distúrbios alimentares, dificuldades de vínculo e problemas afetivos são algumas das sequelas emocionais e psicológicas que podem surgir.

“O abuso invade precocemente o corpo e o psiquismo da criança, desorganizando sua capacidade de simbolizar o mundo. A terapia, nesse contexto, é um espaço de reconstrução, onde a dor pode se transformar em palavra e, assim, ser elaborada”, explica Silvia.

Denunciar é proteger — e é dever de todos

A responsabilidade pela proteção da infância é coletiva. Vai além da família ou da escola. É preciso fortalecer redes de apoio, investir em escuta qualificada, capacitar profissionais e garantir que denúncias sejam acolhidas com seriedade.

“Romper com o silêncio exige coragem emocional e preparo técnico. Muitas vezes, o agressor está dentro do círculo familiar. Os pactos inconscientes de silêncio só perpetuam a violência. Denunciar é proteger”, alerta a especialista.

O seu filho pode ser a próxima vítima

O silêncio e a omissão também colocam em risco quem você mais ama. Seu filho, seu neto, seu sobrinho — qualquer criança pode estar vulnerável. Ajudar a romper o ciclo de violência é, também, uma forma de impedir que esse crime chegue até você ou alguém da sua família. Denunciar hoje pode salvar a infância de muitas crianças — inclusive a de quem está ao seu lado.

Durante o Maio Laranja — e em todos os meses do ano —, a sociedade brasileira é chamada a assumir seu papel de vigilância e cuidado. Romper o silêncio é, acima de tudo, um ato de amor e justiça.

Onde denunciar:
📞 Disque 100 — canal gratuito e sigiloso para denúncias de violações de direitos humanos, incluindo abuso e exploração sexual infantil.
📍 Conselhos Tutelares, delegacias especializadas e Ministério Público também devem ser acionados em casos suspeitos.

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