A transformação do mercado imobiliário brasileiro: a ascensão dos imóveis compactos
Nos
últimos anos, o mercado imobiliário brasileiro tem assistido a uma
significativa mudança nas preferências dos consumidores e nas dinâmicas de
compra. Impulsionada por novas dinâmicas familiares, altos custos de
financiamento e a contínua demanda por espaços funcionais e acessíveis, a busca
por imóveis menores vem se destacando como uma tendência dominante. Este artigo
explora as causas e consequências dessa transformação no setor imobiliário.
Mudanças nas Dinâmicas Familiares
Em seu
consagrado livro “Modernidade Líquida", Bauman explica como a “Era
Moderna” se divide em uma versão sólida e
outra liquida. Na sólida, século
passado. todas as pessoas tem um plano de vida rígido que envolve casar cedo,
de preferência casamento hétero, ter 2 filhos, e duas vagas na garagem entre
outras coisas. Na modernidade líquida,
que estamos vivendo, as pessoas estão mais “livres", fluídas e respeitando
mais suas individualidades. Os casamentos acontecem mais tarde, podem ser
homoafetivos ou simplesmente nem nos casamos. Filhos? Menos ou nenhum. Estamos
mais livres para escolher e isso impacta no tamanho das famílias e na forma
como querem morar. Os imóveis estão cada vez menores e mais funcionais,
refletindo uma adaptação às novas realidades sociais.
Impacto Regional no Espírito Santo
No
Espírito Santo, especialmente em Vitória e Vila Velha, a pandemia e o crescente
número de divórcios também influenciaram essa tendência. Segundo a Betha
Espaço, empresa especializada em gestão imobiliária, terrenos caros e demandas
por imóveis menores reduziram a média dos imóveis negociados de 100 m² para
cerca de 85 m².
O mercado de Vitória e
Região Metropolitana apresentou um crescimento de 28,3% nos lançamentos
imobiliários, atingindo o número de 5.060 unidades — o segundo melhor ano dos
últimos cinco anos, conforme dados da ADEMI-ES (Associação de Dirigentes de
Empresas do Mercado Imobiliário do ES). Este crescimento representa a sanção de
novas unidades habitacionais já vocacionadas para um novo perfil de consumo.
Pressão Econômica e Affordability*
*A expressão
"affordability" no contexto do mercado imobiliário refere-se à
acessibilidade financeira de habitação para os compradores ou inquilinos. Ela
avalia se as pessoas podem pagar adequadamente a habitação em relação à sua
renda e outros custos de vida.
O
aumento nos custos dos financiamentos imobiliários e a deterioração da
capacidade de compra das famílias têm incentivado a busca por soluções
habitacionais mais econômicas. No caso de Vitória, que enfrenta a pressão de
preços de terrenos por ser uma ilha com pouca expansão disponível, é um desafio
significativo. A área do aeroporto, em desenvolvimento para o comércio, não
oferece soluções habitacionais, exacerbando ainda mais essa pressão.
Essas
mudanças forçam incorporadoras e construtoras a adaptarem seus projetos,
priorizando o desenvolvimento de unidades mais compactas e eficientes. Esta
transição pode resultar em maior inovação no design dos espaços, bem como na
oferta de serviços que agreguem valor ao conceito de "moradia compacta".
As transformações no
mercado imobiliário brasileiro não apenas respondem às mudanças nas
necessidades dos consumidores, mas também desafiam o setor a inovar e se
reinventar. A contínua popularidade dos imóveis menores destaca a importância
de um mercado adaptável, capaz de oferecer habitações acessíveis e sustentáveis
no futuro.
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Sobre o autor:
Claudino é escritor,
palestrante, analista e consultor especializado no mercado imobiliário. Nascido
em Fortaleza, Ceará, formou-se em Administração de Empresas pela Universidade
de Brasília (UnB) e iniciou sua carreira na capital federal, atuando no setor
de telecomunicações durante o período de privatização no Brasil e,
posteriormente, no Oriente Médio, onde iniciou no mercado imobiliário.
Possui diversas
especializações, incluindo Planejamento em Marketing, Design de Serviços e
Direito e Negócios Imobiliários por renomadas instituições. Embora radicado no
Canadá, está sempre transitando entre os estados brasileiros, fortalecendo sua
visão estratégica e abrangente do mercado e colaborando em projetos de grande
relevância com imobiliárias, agências e entidades do setor. Sua experiência
ultrapassa a marca de 200 empresas com as quais trabalhou e relacionou-se em
algum momento da sua carreira.
Autor do livro “A
natureza do mercado imobiliário: empreendedorismo e gestão”, Claudino lançou
recentemente o “O Ontem, o Hoje e o Amanhã”, segundo volume de sua série de
livros sobre o mercado imobiliário, explorando as transformações passadas,
presentes e futuras deste dinâmico setor.