LIDE-GO cobra protagonismo do agro até 2026

"Está na hora de o Brasil escrever o final dessa novela e mostrar ao mundo que o agro é, sim, sustentável." A declaração de André Rocha, feita com tom de metáfora sobre o papel internacional do país na agenda ambiental, deu o tom do painel ‘Para onde vai o agro em 2026’, realizado nesta quinta-feira (16), em São Paulo.


Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), do LIDE Goiás e do Sindicato da Indústria de Fabricação de Etanol do Estado de Goiás e Sindicato da Indústria de Fabricação de Açúcar do Estado de Goiás (Sifaeg/Sifaçúcar), Rocha defendeu uma virada na comunicação do agronegócio brasileiro, que, segundo ele, já tem resultados concretos de preservação e produtividade, mas ainda enfrenta desconfiança externa. “Temos que transformar o limão em limonada”, afirmou.

O debate integrou o 2º Seminário LIDE - Agronegócio, evento promovido das 8h às 12h na capital paulista, que reuniu empresários, pesquisadores, representantes de entidades e autoridades para discutir os rumos do setor frente aos desafios climáticos, financeiros e geopolíticos.

Pressões econômicas e ambientais
Rocha destacou que o setor entrará em 2026 com crescimento mais moderado, pressionado por custos elevados e instabilidades climáticas. “Atenção para os grãos. Há riscos de doenças e de desrespeito ao vazio sanitário da soja. Quem comprou fertilizante com dólar a R$ 6,20 está enrascado”, sinalizou.

A preocupação com o produtor rural também marcou as falas do painel. Gislaine Balbinot, diretora da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), trouxe um alerta sobre o Rio Grande do Sul, onde produtores enfrentam crise financeira e social. “Temos casos de suicídio. A falta de saída e o endividamento têm levado agricultores ao limite”, disse. Para ela, o atual modelo de crédito rural é insuficiente. “Precisamos que o mercado de capitais assuma esse debate.”

Alessandra Fajardo, do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), estimou em R$ 100 bilhões o déficit de financiamento para escalar práticas agrícolas sustentáveis. “Não estamos falando de inovação mirabolante. É plantio direto, integração lavoura-pecuária, intensificação bovina. Precisamos de blended finance e metodologias reconhecidas nos mercados internacionais”, afirmou.

Judicialização e segurança jurídica
Francisco Matturro, presidente do LIDE Agronegócios, criticou o que chamou de "banalização da recuperação judicial" no campo. “Virou estratégia. Mas é uma pena de morte financeira. O produtor fica com um carimbo que não sai mais”, afirmou. Ele também chamou atenção para a dependência de fertilizantes e o risco de colapso se houver bloqueios na importação desses insumos.

Ciência, dados e política climática
O chefe-geral da Embrapa Territorial, Gustavo Spadotti, anunciou que um novo levantamento sobre o uso da terra será apresentado na COP30, que ocorrerá em Belém (PA) em 2026. “O gráfico foi fechado ontem. Será lançado no primeiro dia da COP para reforçar, com base em evidência científica, que o Brasil preserva mais do que se reconhece internacionalmente”, disse.

O advogado Giuseppe Mendes, do escritório Pinheiro & Mendes, reforçou a necessidade de ajustes técnicos nas métricas de carbono utilizadas globalmente. “Se não forem tropicalizados essas metodologias, o Brasil ficará de fora dos mercados voluntários. É um desafio técnico e jurídico”, afirmou. Ele também convidou o setor a participar da COP30 e destacou os investimentos em infraestrutura no Pará para acolher o agro no evento.

Bioenergia e impactos das mudanças climáticas
Erasmo Carlos Battistella, presidente da BE8 Energy, encerrou o painel com foco na bioenergia e nos impactos climáticos. “Se incluirmos o biodiesel e o SAF (combustível sustentável de aviação) de forma estratégica, o Brasil pode liderar a transição energética global”, afirmou. Ele também relatou os efeitos extremos vividos no Rio Grande do Sul. “Nos últimos cinco anos, tivemos quatro estiagens e a maior enchente da história. Isso exige respostas estruturais”, disse.

Mediado por Carlos José Marques, diretor do LIDE Conteúdo, o painel consolidou um discurso de urgência para reposicionar o Brasil como fornecedor de alimentos sustentáveis, com respaldo técnico, jurídico, financeiro e científico.

A expectativa dos organizadores é que os temas tratados nesta edição do seminário sigam como prioridade nas discussões que antecedem a COP30, nas eleições municipais de 2026 e na formulação de políticas públicas voltadas à competitividade e adaptação do setor agropecuário.



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