A megaoperação contra o Comando Vermelho na Penha e no Complexo do Alemão mostrou que, quando o Estado usa inteligência e força, o crime recua. Também expôs o que Brasília evita encarar. O governo federal segue empurrando a conta para os estados, enquanto facções operam como rede transnacional, abastecida por fronteiras porosas e dinheiro que circula em velocidade digital.
A Constituição é clara. O artigo 144 estabelece que a segurança pública é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos. Esse mandamento não autoriza omissão federal. Se facções cruzam fronteiras, usam rotas federais, lavam dinheiro em estruturas sofisticadas e mantêm comando a partir de presídios, a União deve atuar de forma contínua e efetiva.
Fuzis apreendidos na localidade da Vacaria, área de mata que liga os complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio de Janeiro - Divulgação/Polícia Militar do Rio de Janeiro
Chega de slogans. O país precisa de presença. A operação no Rio teve méritos: integração de forças, apreensão de armamento e neutralização de quadros do crime. Agora é imperativo blindar o resultado com transparência. Laudos céleres, cadeia de custódia preservada, identificação e georreferenciamento dos corpos apresentados por moradores. A verdade técnica protege o bom policial e responsabiliza quem deve ser responsabilizado: os criminosos.
Vitória não se mede só por armas apreendidas; é impedir a recomposição de pessoal, logística e caixa das facções. Cabe à União vigiar fronteiras com tecnologia, integrar Polícia Federal, Receita e Banco Central para rastrear e bloquear fluxos, reforçar cooperação internacional, cortar comunicação ilícita nos presídios e confiscar bens; sem isso, a facção volta ao ponto de partida no dia seguinte.
Também é hora de mudar a cultura política. Basta de disputa por curtidas e cortes. A população quer sair de casa, trabalhar, pagar as contas e voltar com segurança. Ninguém aguenta a discussão vazia entre esquerda e direita que não entrega resultado na rua.
O pacote anunciado pelo governo federal pode ser robusto no papel, mas está longe de ser factível. O país já viu textos duros virarem enfeite enquanto armas e drogas entram pelas fronteiras e dinheiro sujo circula sem rastreio. Não adianta prender se o Estado não fecha as portas por onde o crime entra e não corta o oxigênio financeiro que o sustenta. Sem inteligência, tecnologia e cooperação, a lei não sai do anúncio.
É necessário um pacto de aplicação da lei. Executivo e Judiciário precisam alinhar um padrão que não relativize responsabilidade penal. Nada de conchavos. Nada de desculpas ideológicas que tratem bandido como produto inevitável de injustiça social. Traficante é agente econômico do crime. Usuário não é inocente operacional.
O Rio exigiu de seus policiais o que se costuma exigir de heróis. Eles atuaram. Cabe ao Estado garantir proteção jurídica e material para quem esteve na linha de frente. Cabe à União assumir o que é seu. E ao país transformar resultados pontuais em política permanente. Segurança é dever e responsabilidade de todos. A Constituição já apontou o caminho. Falta o governo federal percorrê-lo com coragem e resultado.

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